Renan Pereira
Vivemos em uma sociedade sobrecarregada de imposições de valores por meio de regrismos: moralismo religioso, burguês, científico, e tantos outros. A mediano prazo, o mundo é passível de mutações, e tais sistemas dominantes, começam a ser questionados como nunca. Dá-se por exemplo, ainda que com certa desfrequencia, os periódicos golpes que tem sofrido a doutrina capitalista. O discurso atual e dominante diz que as forças esquerdistas morreram com a queda do Muro de Berlim; mas, ainda que estejamos muito longe de construir uma “nova sociedade”, este discurso não é determinante para aqueles que buscam o conhecimento além do senso comum. É preciso, portanto, desmistificar esta visão unilateral e expor o outro lado (quase inacessível) da problemática: grupos protestantes e questionadores da "Ordem Única" (intitulados “coletivos”) estão disseminados por todos os lados. Porém, sobrepujados e soterrados, não pelos destroços do Muro de Berlim, mas sim pela força burguesa aliada a Estados e grandes meios de comunicação.
O anticonservadorismo está em alta definitivamente no século XXI, se é que esteve em baixa algum dia. Os principais meios de comunicação mal noticiam; isso é certo! Algo esdrúxulo ocorre frequentemente no mundo contemporâneo: coelhos de pelúcia gigantes apodrecendo no leste europeu da França; uma "empresa" dinamarquesa fornecendo cerveja grátis pelo mundo; maquetes do Mc’Donalds inundadas em representações de vídeo na internet; coletivos de fotógrafos desmascarando políticos; comunidades centrífugas em zonas específicas vivendo com suas próprias leis (como se estivessem no filme “A Vila”, de Shyamalan).
A fim de questionar princípios pré-estabelecidos por corporações, Igreja, Ciência ou Estado - bem como os demais sistemas dominantes -, os coletivos estão espalhados por todas as partes do mundo, cada vez mais atuantes, e parecem não estar nada satisfeitos com os aparatos de status repressivos: seja o dogmatismo religioso, a idolatria darwinista, a ausência de autonomia do ser em si ou a predominante sociedade capitalista. A real crítica do mundo contemporâneo a estes preceitos parte de todos os lados, a influência das novas artes presentes veio consolidar essa concepção de mudança do indivíduo para com o mundo.
Cito aqui, como grande expressão das organizações coletivas contemporâneas, o misterioso escritor americano Hakim Bey. O “Profeta do Caos”, como ficou conhecido, é responsável por publicações que tendem a questionar as leis e quaisquer imposições que sejam feitas ao indivíduo, impedindo assim, a sua progressão como ser humano. Pregador da liberdade plena do ser, Bey diz que é necessário mudar por si, e não esperar uma revolução social-utópica. Tendo isso em vista, escreveu em seu livro TAZ (Zonas Autônomas Temporárias), sobre como o indivíduo deve agir perante o autoritarismo dominante, sugerindo a criação de grupos que tentem fugir às regras convencionais impostas por tais regimes.
Não abraço, categoricamente, nenhum ideal. Apenas penso que sociedade hodierna tem um importante papel a cumprir, é preciso aguçar o senso crítico e questionar as repressões que sofremos no dia-a-dia. O “submundo” tem que reagir (e entenda-se a expressão submundo em seu sentido conotativo) contra as dominantes formas de poder atuais.
Vivemos em época favorável à evolução do ser como humano, ou coisa parecida; temos hoje, variados grupos em diferentes pontos do mundo agindo para a construção de um novo ambiente social. O sistema capitalista privou a liberdade dos seres humanos, e deixou nações inteiras na miséria em prol do seu bel-prazer. O materialismo e o esteticismo chegaram ao seu ápice estrutural. A política do “forte” sobrepujou qualquer plano espiritual. Investe-se em guerras e compras de armamentos, enquanto milhões de pessoas no mundo inteiro vivem abaixo da linha da pobreza.
A comodidade da sociedade néo-burguesa (comodidade segundo suas próprias autointerpretações de bem-estar) preserva intacta a atroz realidade do mundo. Os meios de comunicação, quase sempre controlados por famílias provindas do elitismo, agem a fim de manter o status-quo.
Restam-nos os escritores marginais, alguns poucos canais de internet, panfletos espalhados pelos centros, redes de TV de menor estrutura. E é claro, agora mais do que nunca, a proliferação de coletivos a fim de disseminar ideais revolucionários. Os sistemas dominantes estão sendo questionados como nunca. O império capitalista-burguês entra em declínio, paulatinamente é verdade. Mas é importante observar que o mundo está em constante evolução.
Cabe a nós, espectadores desse mundo bélico, entrar na guerra também. Mas não na guerra sanguinária e facciosa, e sim, a guerra espiritual, sedenta por mudanças. Comecemos a pensar, e se possível, envolver-se primeiramente com aquilo que estiver próximo de nós. Pois isso, a longo prazo, poderá nos levar a uma sociedade melhor.
Uma coisa está bem clara: mudanças são necessidades, eis o grito do submundo!
“Todas as revoluções passam, e o que nos resta é o lodo de uma nova burocracia"... Franz Kafka