O telefone

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domingo, 11 de outubro de 2009

Operações Robin Hood

Renan Pereira

A humanidade guiar-se-á por outros meios, tais quais, não mais a Tua forma de dominação. As ferramentas já foram constituídas, todas postas em cima da mesa, e agora, necessitar-se-á do bom uso das mesmas. Posto isto em total transparência, será necessário cadear os aparelhos repressivos e hastear a bandeira dos sentenciados, dos marginais culturais.

Tornar-se-á hábito - contínuo e relevante – executar as operações Robin Hood.

Usar-se-á a mesma formulógica contra a Ordem Única, os mesmos mecanismos que nos foram programados ao longo de nossos viveres. E assim então, poder-se-á introduzir o inacessível ao acessível, o inabitável em habitável, o inviolável em transparência e o sagrado em pura ideologia cultural. Inibe-se o dogmatismo, a idolatria, o conservadorismo e a ortodoxia; desfruta-se com êxito a liberdade.

A liberdade em sua verdadeira volição - liberdade no mais amplo dos termos conotativos - é algo deliberadamente inteligível no atual plano mundial. Nenhum indivíduo global pode conhecê-la plenamente até então. Isto é, se levarmos em consideração o nosso grau de ignorância perante o conhecimento histórico-cultural e o conhecimento das psicologias. O que existe, portanto, é outra liberdade. Liberdade do discurso. Liberdade, tal qual, fomos induzidos a gostar e engolir, sem ao menos mastigá-la. Escolhe-se de acordo com o que lhe é acessível: o gato ou o coelho, a gasolina e o álcool, a enxada e o restelo, a cocaína e o crack. Opta-se por correntes ideológicas, por partidos políticos, por religiões - e não por liberdades. Na melhor das hipóteses, a competência de escolher entre isso e aquilo é um dos nossos subterfúgios. O que nos resta é sempre o “direito de escolha”. E é só isso.

As ORH são na verdade - na mais abrangente das conotações - metáforas sobre o ciclo de vida dos impudicos intelectuais pregadores da “outra visão” (e não dos chatos intelectuais poltronais), representações do pensamento anticorporativista e do espírito de altruísmo, em geral. Altruísmo (ou a ausência dele) naturalmente incorporado às novas artes. A descrença nos moldes, a informação aliada ao “excesso”e a estrutura entrecortada pelo pensamento e pela ação são apenas algumas das novas práticas relacionadas a tais operações. Contudo, se assim não for, conclui-se: quando o mais poderoso dos Sancho Panças calar nosso último Quixote, eles terão vencido e, vencidos estaremos.

Será necessário morrer de amor (e de ódio) próprio pela humanidade. Destruir para reconstruir. Será preciso novos ideais. Atividades e profanações. Desordem e etceterização. Hastear a bandeira ainda uma vez, mesmo que em solo inimigo.

Será necessário ainda...sangrarmos algumas vezes mais.

"If you tolerate this...your children will be next"- Manic Street Preachers


Comentário por Rodrigo Camargo

"O direito é catastrófico, pelo menos nos moldes aos quais nos iludimos. Ninguém tem direitos em nossa sociedade! O que temos são esmolas de controle político.
O sistema está tão bem planejado que só resta aos mendigos esmolarem para comprar pinga.
Pelo amor de suas crenças - se é que possuem - caros leitores. A busca da liberdade está presa aos moldes convencionais e nada democráticos. Será necessário tornar lei operações 'Robin Hood', ou ao menos torná-las comum. Será muito mais benéfico caixas de chocolate Nestlé nas mãos de crianças das favelas brasileiras, do que mais U$ 500.000,00 na conta de uma corporação!"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Néo-confissões de Biartes Bertiny (bobagens de um 31 de agosto)

Renan Pereira

Considero-me um ser pensante e complexo. Ainda que sem referências, pensante e complexo.

Acho que nunca vou chegar a me entender completamente, e tudo o que queria agora era viver em um mundo mudo...

Pensar é um verdadeiro mal, pelo menos para mim o é.

De repente o que sinto é puro enjoo. Vontade voluptuosa de morrer (não sei se sou capaz). Começo a perceber então, que eu me odiaria (caso eu não fosse eu). Logo, eu me odeio? Não compreendo: como alguém pode gostar de mim? Se é que alguém gosta. De fato, todos mentem. Mentirosos!!!

Nunca fiz nada para que alguém me gostasse. Dane-se, portanto!

Doravante, calculo que desse estado de fossa total, talvez a morte cure. Mas só talvez; e, de fato, nem acredito nisso. Morte ao darwinismo: viva Darwin!

Por que é que todos vocês vivem mentindo, assim como eu? Vão todos para os Diabos, e para os diabos. Preciso de uma dose de amor, e, no entanto, não sei se ele existe. A verdadeira fossa, não é categoricamente esse lance da depressão. É sim, esse episódio de instantes, esse lance que conforta... essa jogada que desespera. Escrevendo tantas bobagens intuitivas, até pareço um escritor de verdade. Mas o fato, é que não tenho coragem. Sou um covarde. Um covarde que por vezes escreve coisas sinceras. Um covarde que acorda no dia seguinte para ir ao emprego que detesta. O covarde que se angustia o dia todo, mas não se move. Estou farto de teorias, e tenho arruinado algumas vidas ultimamente. Ponto final.

Não desejo ser tão tímido, queria poder dizer tudo o que sinto. Pois nem quando escrevo faço isso. Nem quando escrevo somente para mim. Tenho medo que eu descubra meus próprios segredos. E, não obstante, como Dostoiévski bem sabe, eu posso ser muito bem um de seus personagens principais (ainda que com mínimas referências). Esta é uma noite sincera. Eu deveria mesmo fazer algo impressionante, como uma ligação ou uma visita inesperada, mas o mais provável mesmo é que eu volte a dormir...

Contudo, permitam-me vos deixar um conselho: tenha um emprego, cumpra os horários, compre uma TV legal, restrinja-se ao dicionário. Caso o contrário, adira à iconoclastia.



sábado, 3 de outubro de 2009

Reciclagem

Pensamentos

Quando estiver categoricamente indeciso, siga os fracassados. De uma forma, ou de outra, eles sempre sabem para onde estão indo...

O derradeiro grito do “submundo”: é necessário sonhar com as mudanças


Renan PereiraAdicionar vídeo

Vivemos em uma sociedade sobrecarregada de imposições de valores por meio de regrismos: moralismo religioso, burguês, científico, e tantos outros. A mediano prazo, o mundo é passível de mutações, e tais sistemas dominantes, começam a ser questionados como nunca. Dá-se por exemplo, ainda que com certa desfrequencia, os periódicos golpes que tem sofrido a doutrina capitalista. O discurso atual e dominante diz que as forças esquerdistas morreram com a queda do Muro de Berlim; mas, ainda que estejamos muito longe de construir uma “nova sociedade”, este discurso não é determinante para aqueles que buscam o conhecimento além do senso comum. É preciso, portanto, desmistificar esta visão unilateral e expor o outro lado (quase inacessível) da problemática: grupos protestantes e questionadores da "Ordem Única" (intitulados “coletivos”) estão disseminados por todos os lados. Porém, sobrepujados e soterrados, não pelos destroços do Muro de Berlim, mas sim pela força burguesa aliada a Estados e grandes meios de comunicação.
O anticonservadorismo está em alta definitivamente no século XXI, se é que esteve em baixa algum dia. Os principais meios de comunicação mal noticiam; isso é certo! Algo esdrúxulo ocorre frequentemente no mundo contemporâneo: coelhos de pelúcia gigantes apodrecendo no leste europeu da França; uma "empresa" dinamarquesa fornecendo cerveja grátis pelo mundo; maquetes do Mc’Donalds inundadas em representações de vídeo na internet; coletivos de fotógrafos desmascarando políticos; comunidades centrífugas em zonas específicas vivendo com suas próprias leis (como se estivessem no filme “A Vila”, de Shyamalan).
A fim de questionar princípios pré-estabelecidos por corporações, Igreja, Ciência ou Estado - bem como os demais sistemas dominantes -, os coletivos estão espalhados por todas as partes do mundo, cada vez mais atuantes, e parecem não estar nada satisfeitos com os aparatos de status repressivos: seja o dogmatismo religioso, a idolatria darwinista, a ausência de autonomia do ser em si ou a predominante sociedade capitalista. A real crítica do mundo contemporâneo a estes preceitos parte de todos os lados, a influência das novas artes presentes veio consolidar essa concepção de mudança do indivíduo para com o mundo.
Cito aqui, como grande expressão das organizações coletivas contemporâneas, o misterioso escritor americano Hakim Bey. O “Profeta do Caos”, como ficou conhecido, é responsável por publicações que tendem a questionar as leis e quaisquer imposições que sejam feitas ao indivíduo, impedindo assim, a sua progressão como ser humano. Pregador da liberdade plena do ser, Bey diz que é necessário mudar por si, e não esperar uma revolução social-utópica. Tendo isso em vista, escreveu em seu livro TAZ (Zonas Autônomas Temporárias), sobre como o indivíduo deve agir perante o autoritarismo dominante, sugerindo a criação de grupos que tentem fugir às regras convencionais impostas por tais regimes.
Não abraço, categoricamente, nenhum ideal. Apenas penso que sociedade hodierna tem um importante papel a cumprir, é preciso aguçar o senso crítico e questionar as repressões que sofremos no dia-a-dia. O “submundo” tem que reagir (e entenda-se a expressão submundo em seu sentido conotativo) contra as dominantes formas de poder atuais.
Vivemos em época favorável à evolução do ser como humano, ou coisa parecida; temos hoje, variados grupos em diferentes pontos do mundo agindo para a construção de um novo ambiente social. O sistema capitalista privou a liberdade dos seres humanos, e deixou nações inteiras na miséria em prol do seu bel-prazer. O materialismo e o esteticismo chegaram ao seu ápice estrutural. A política do “forte” sobrepujou qualquer plano espiritual. Investe-se em guerras e compras de armamentos, enquanto milhões de pessoas no mundo inteiro vivem abaixo da linha da pobreza.
A comodidade da sociedade néo-burguesa (comodidade segundo suas próprias autointerpretações de bem-estar) preserva intacta a atroz realidade do mundo. Os meios de comunicação, quase sempre controlados por famílias provindas do elitismo, agem a fim de manter o status-quo.
Restam-nos os escritores marginais, alguns poucos canais de internet, panfletos espalhados pelos centros, redes de TV de menor estrutura. E é claro, agora mais do que nunca, a proliferação de coletivos a fim de disseminar ideais revolucionários. Os sistemas dominantes estão sendo questionados como nunca. O império capitalista-burguês entra em declínio, paulatinamente é verdade. Mas é importante observar que o mundo está em constante evolução.
Cabe a nós, espectadores desse mundo bélico, entrar na guerra também. Mas não na guerra sanguinária e facciosa, e sim, a guerra espiritual, sedenta por mudanças. Comecemos a pensar, e se possível, envolver-se primeiramente com aquilo que estiver próximo de nós. Pois isso, a longo prazo, poderá nos levar a uma sociedade melhor.
Uma coisa está bem clara: mudanças são necessidades, eis o grito do submundo!

“Todas as revoluções passam, e o que nos resta é o lodo de uma nova burocracia"... Franz Kafka